José Maria Eça de Queirós nasceu na Póvoa de Varzim, a 25 de Novembro de 1845, filho de José Maria Teixeira de Queirós, magistrado judicial, e Carolina Augusta Pereira d'Eça, natural de Viana do Castelo.


Passou a infância longe dos pais, que só viriam a casar quando ele já tinha quatro anos. Na verdade passou a maior parte da sua vida como filho ilegítimo, pois só foi reconhecido aos quarenta anos de idade, na ocasião em que casou. Até 1851 foi criado por uma ama em Vila do Conde; depois foi entregue aos cuidados dos avós paternos que viviam perto de Aveiro, em Verdemilho.

 

Por volta dos dez anos foi internado no Colégio da Lapa, no Porto, onde o pai era juiz. Ramalho Ortigão era filho do director e chegou a ensinar Francês ao jovem Eça.

 

Em 1861 matriculou-se em Coimbra, no curso de Direito, que concluiu em 1866. Foi aí que conheceu Antero de Quental e Teófilo Braga mas não se envolveu na polémica conhecida por Questão Coimbrã (1865-66), que opôs os jovens estudantes a alguns dos mais conhecidos representantes da segunda geração romântica.

Segundo o seu próprio testemunho, nesta fase leu os autores franceses que, na época, entusiasmavam a juventude letrada em Portugal. Em Coimbra cruzavam-se, nessa altura, a tendência romântica e as novas ideias de raiz positivista e ambas contribuíram para a formação intelectual de Eça e dos seus companheiros.

Em 1867 fundou e redigiu integralmente, durante perto de meio ano, o jornal "O Distrito de Évora", com o qual fez oposição política ao governo. Meses depois instalou-se em Lisboa, passando a colaborar com maior regularidade na "Gazeta de Portugal" , para a qual começara a escrever no ano anterior. Os textos desta época, publicados posteriormente com o título Prosas Bárbaras, reflectem ainda uma acentuada influência romântica.

 

Os seus primeiros textos, publicados na Gazeta de Portugal, sob forma de folhetins, postumamente recolhidos com o título de Prosas Bárbaras (1903), espantaram pela atrevida novidade, muito inspirada na literatura romântica europeia (Vítor Hugo, Baudelaire, Hofmann). Óscar Lopes, na História da Literatura (17ª Ed. p. 859), referiu a escrita desses folhetins "como se fosse uma catarse de medos e superstições inconfessáveis", ou seja, qualquer coisa de profundo e incontido que viria a ecoar na poesia de Cesário Verde, Eugénio de Castro e Camilo Pessanha.

 

Em Évora espera-o, por esse tempo, uma experiência jornalística de grande fôlego, como director e redactor de um jornal de oposição ao governo, o Distrito de Évora (1867), onde põe à prova os seus dotes de escritor. Uma viagem ao Oriente (Out. 1869 - Jan. 1870), Malta, Egipto e Terra Santa, permite-lhe assistir à inauguração do canal do Suez e introduz nos seus horizontes culturais, ainda românticos, novas realidades que virão alterar a sua escrita. Esta viagem irá fornecer-lhe matéria abundante para O Mistério da Estrada de Sintra, romance folhetinesco de mistério, partilhado com Ramalho Ortigão. Será também o motivo fundamental de uma obra póstuma, O Egipto, Notas de Viagem (1926) inspirando, ainda, de maneira essencial um dos seus romances mais conseguidos, A Relíquia (1887).

 

Ainda em 1869, de parceria com Antero de Quental e Batalha Reis, cria a figura de Carlos Fradique Mendes, que mais tarde transformaria numa espécie de alter-ego.

 

Em 1870 havia sido nomeado administrador do conselho de Leiria. Essa curta estadia forneceu-lhe o material para imaginar o ambiente provinciano e devoto em que decorre a acção de O Crime do Padre Amaro.

 

Entretanto ingressou na carreira diplomática, tendo sido nomeado cônsul em Havana (Cuba, na altura colónia espanhola), em 1872. Durante a sua estadia procurou melhorar a situação dos emigrantes chineses, oriundos de Macau, colocados numa quase escravidão. Concluiu a sua estadia no continente americano, fazendo uma longa viagem pelos Estados Unidos e Canadá. Foi nesta fase que redigiu o conto Singularidades de uma rapariga loura e a primeira versão de O Crime do Padre Amaro.

 

Em Dezembro de 1874 foi transferido para Newcastle, onde escreveu O Primo Basílio, e mais tarde para Bristol (1878). Dez anos depois (1888) foi colocado em Paris, onde permaneceu até à sua morte.

 

Na sequência das Conferências do Casino, em 1877 Eça projectou uma série de novelas com que faria uma análise crítica da sociedade portuguesa do seu tempo, com a designação genérica de "Cenas Portuguesas". Mesmo sem obedecer com rigor a esse projecto, muitos dos romances escritos por Eça até ao fim da sua vida nasceram dele: O Crime do Padre Amaro (1876), O Primo Basílio (1878), A Capital (1878), Os Maias (1888), O Conde de Abranhos e Alves e Cia.

Entre 1889 e 1892 dirige a "Revista de Portugal". Ao longo dos anos colaborou activamente com muitas outras publicações, tendo esses textos sido publicados postumamente.

 

Pouco depois da publicação de Os Maias, que não obteve o sucesso que o autor esperava, nota-se na produção romanesca de Eça de Queirós uma significativa inflexão. Essas últimas obras (A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras e Contos) manifestam um certo desencanto face ao mundo moderno e um vago desejo de retorno às origens, à simplicidade da vida rural.

 

Eça de Queirós morreu em Paris, a 16 de Agosto de 1900.

Transcrito por:

JNReis